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terça-feira, 25 de dezembro de 2018
sábado, 1 de dezembro de 2018
Foi “O Nascimento da Tragédia”, do filósofo alemão Friedrich Nietzsche, que trouxe de volta a questão da relação de Dionísio com o teatro, e elevou o interesse nas “Mênades”.
A Tragédia Grega
"Dioniso era representado nas cidades gregas como o protetor dos que não pertencem à sociedade convencional e, portanto, simboliza tudo o que é caótico, perigoso e inesperado, tudo que escapa da razão humana e que só pode ser atribuída à ação imprevisível dos deuses."
O culto a Dioniso
"Dioniso era representado nas cidades gregas como o protetor dos que não pertencem à sociedade convencional e, portanto, simboliza tudo o que é caótico, perigoso e inesperado, tudo que escapa da razão humana e que só pode ser atribuída à ação imprevisível dos deuses."
O culto a Dioniso
As encenações teatrais
gregas derivaram dos cultos dedicados a Dionísio, o 13º deus do Olimpo,
protetor das vindimas (que provavelmente originou-se da Ásia). Etimologicamente
"Dionísio" significa o filho de Zeus (os romanos chamaram-no de
Baco). Na época da colheita as comunidades rurais dedicavam ao deus festivo,
cinco dias de folias ungidas com muito vinho, até provocar a embriaguez
coletiva. Durante as bacantes, isto é, as festas dionisíacas, ninguém poderia
ser detido e aqueles que estivessem presos eram libertados para participarem da
festança geral.
O Corifeu e o Coro
Para entreter os
participantes das festas bacantes, ajudando a passar o tempo, eram organizadas
pequenas encenações, ora dramáticas, ora satíricas, coordenadas por um corifeu.
Este torna-se um personagem chave na deflagração da encenação, apresentando-se
como o mensageiro de Dionísio. Acompanhava-o um coro que tinha a função de
externar por gestos e passos ensaiados os momentos de alegria ou de terror que
permeavam a narrativa. O corifeu e o coro são os elementos básicos do Teatro,
formam o ponto de partida da encenação que mais tarde assumirá algumas
alterações bem definidas.
As Mênades
(Bacantes)
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Como não poderia
deixar de ser, perante uma celebração tão subversiva dos costumes, houve
enorme resistência por parte de reis e dos sacerdotes na aceitação do novo
culto. A lenda, por sua vez, conservou o nome de Proteu, Rei de Tebas, que
teria amargado um triste destino por ter-se oposto a ele. Com o
decorrer dos tempos Dionísio tornou-se cada vez mais "respeitável".
As festas dionisíacas transformaram-se num ritual cada vez mais organizado e
disciplinado, recebendo uma cuidadosa atenção das autoridades civis e
religiosas. Apolo, o deus símbolo da racionalidade, da beleza e da
inteligência, estendeu finalmente seus braços para Dionísio. Transpondo tal
esquematização para a encenação teatral podemos afirmar que a Tragédia, como
espetáculo, era a domesticação apolínea dos desregramentos de Dionísio. O
Consciente dominando o Inconsciente; o Racional subordinando o Temerário; o
Sol desvelando a Treva. Ao reproduzir frente ao público o inesperado, o
passional, imaginava-se conter Dionísio, domesticando-o. Por isso entende-se
a observação de Nietzsche que afirmou que os gregos foram obrigados a erguer
dois altares na encenação teatral: um para Apolo e o outro a Dionísio. Apolo,
o sol, domesticador de Dionísio.
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O raio – Zeus
porta-fogo – fez-me o parto. Deus em homem transfigurado, achego-me ao rio
Ismeno, ao minadouro dírceo. Avisto o memorial de minha mãe relampejada
junto ao paço. Escombros de sua morada esfumam com o fogo, ainda flâmeo,
de Zeus, ultraje eterno de Hera contra Semele. Louvo Cadmo: sagrou à filha
o espaço não-pisado, que circum-ocultei com verdes vinhas em cachos. Deixo
Lídia e Frígia pluri-áureas; os plainos da Pérsia calcinados; Báctria
emurada, a Média, terra gélida; Arábia venturosa; pleniaberta ao mar
salino, a Ásia, onde, em tantas urbes de torres multilindas, grego e
bárbaro compunham gigantesco aglomerado.
Antes de prosseguirmos
na descrição dos espetáculos teatrais devemos fazer algumas observações sobre
esse quase desconhecido culto a Dionísio, que penetrou subreticiamente na
sociedade grega. Acredita-se que sua origem primeira veio da Trácia, sendo que
as mulheres daquela região da Grécia foram suas principais adoradoras.
Embriagadas ou simulando encontraram-se "possuídas", endemoninhadas,
lançando sobre si cinzas e pó, as seguidoras de Dionísio refugiavam-se em
locais ermos para, em contato com o ar livre e a natureza selvática, exorcizar
a "possessão". Chamavam-nas de Ménades ou Bacantes e temos várias
referências de grupos femininos que perambulavam pelas montanhas e bosques num
estado de permanente frenesi, alimentando-se de ervas, bagas silvestres e leite
de cabra selvagem. Segundo senso comum, Dionísio as alimentava. A origem
psico-sociológica desse comportamento não foi ainda suficientemente avaliada,
mas pode-se supor que derivasse de uma reação patológica à exclusão cada vez
maior das mulheres da vida coletiva. O afastamento voluntário e a conseqüente
entrega a um estado de possessão, seguidos de um tremor báquico, onde
embriaguez e a devoração de animais se intercalavam, atuavam como uma terapia à
sua crescente marginalização. Diga-se que essa bizarria não passou despercebida
aos médicos e sociólogos gregos daquela época que a definiam como uma forma
prosaica de loucura - o coribantismo. O atingido por tal loucura, excluídas as
circunstâncias exteriores capazes de provocarem o fenômeno, via estranhas
figuras, ouvia o som de flautas e caia num profundo paroxismo, sendo atacado
por um furor irresistível de dançar. Portanto, o culto dionisíaco conservou,
como um componente essencial, essas explosões imprevisíveis, anárquicas e
passionais, que fizeram com que Nietzsche as identificasse como as autenticas
manifestações de uma vitalidade aprisionada pela moral, pelo preconceito e pela
razão.
Resistência a Dionísio
Os Ditirambos
Acredita-se que o
texto trágico resultou da evolução dos ditirambos (*) - as canções dedicadas a
Dionísio. Surgiram, em seus tempos primeiros, sem nenhuma ordem, pois eram
cantados por amigos embriagados que confraternizavam num banquete. Desde Aríon,
o ditirambo passou a ser regularmente interpretado pelo coro, celebrando o
começo da Primavera e a florescência das videiras, sendo alegres ou tristes
conforme a disposição dos bacantes. O texto trágico também resultou de um
conjunto de outras expressões literárias, tal como a poesia lírica e a poesia
épica. Quer dizer, quando a composição trágica começou a se constituir numa
forma dramática de poderosa penetração popular, já havia uma longa tradição
cultural cujas origens se perdem nos confins da história.
O Conteúdo do Texto
Dramático
Por outra parte, muito
se discute o conteúdo ideológico do texto dramático. Para muitos ele foi o
veículo utilizado pela nobreza eupátrida para difundir os ideais agônicos
(enaltecendo a importância da sophrosyne e da kalokagatia, o senso de medida e
de equilíbrio, que compunham os ideais da vida aristocrática). Se, por um lado,
é inegável a existência de um discurso calcado nos valores aristocráticos de
honra, de sangue e de vontade, por outro, o texto dramático expressou o momento
da perplexidade dos habitantes da polis, constitui-se numa complexa relação
onde o passado (os dramas das famílias aristocráticas) inspirou a discussão
coletiva das questões que atormentavam a comunidade no presente. Quer dizer,
mesmo que a intenção dos autores fosse difundir o ethos aristocrático em meio a
plebe urbana, o espetáculo trágico transcendeu tais limites, tornando-se uma
força dramática coletiva.
O Destino da
Comunidade
Ésquilo nas "As
suplicantes" apoia a aliança militar com Argos e nas "Euménides"
discute o destino e a sacralidade do areópago, o tribunal dos magistrados da
Polis, supremo poder judiciário dos gregos. Eurípedes tanto nas "Heráclidas"
como em "Andrômaca" lança violentas farpas contra Esparta. No final
das contas, não é o drama de Orestes ou os tormentos do Rei Édipo e de seus
filhos que estão em jogo. Aquelas histórias eram apenas matéria-prima do autor
trágico, a argamassa com a qual ele procurava moldar novas realidades. O que
realmente lhes interessava era o destino da comunidade, o destino da Polis, que
jazia oculto pelo manto ou pela armadura dos heróis. Não é em vão que a
tragédia clássica apresenta tanto empenho em apresentar questões jurídicas, em crimes,
em tribunais, em castigos e punições, revelando com isso todo o questionamento
do indivíduo e suas relações com a comunidade. Todos os meandros jurídicos e
éticos são espelhados nas tragédias como resultado das tensões da comunidade,
tensões que derivam de fatores externos (a presença do imperialismo persa e da
sempre ameaçadora Esparta) e internos (os conflitos entre os eupátridas e a
plebe urbana).
A Tragédia como
Síntese
O sucesso da
representação trágica no século V a.C. deveu-se à agudização dessas tensões bem
como da ampliação das perplexidades dos indivíduos, cujas ligações anteriores
(com os phylai, com os deuses domésticos, com as velhas fidelidades e
compromissos) entraram em crise.
Dioniso: Deus, filho de Zeus, chego à Tebas ctônia, Dioniso. Deu-me à luz Semele
cádmia.
O raio – Zeus
porta-fogo – fez-me o parto. Deus em homem transfigurado, achego-me ao rio
Ismeno, ao minadouro dírceo. Avisto o memorial de minha mãe relampejada
junto ao paço. Escombros de sua morada esfumam com o fogo, ainda flâmeo, de
Zeus, ultraje eterno de Hera contra Semele. Louvo Cadmo: sagrou à filha o
espaço não-pisado, que circum-ocultei com verdes vinhas em cachos. Deixo Lídia
e Frígia pluri-áureas; os plainos da Pérsia calcinados; Báctria emurada, a
Média, terra gélida; Arábia venturosa; pleniaberta ao mar salino, a Ásia, onde,
em tantas urbes de torres multilindas, grego e bárbaro compunham gigantesco
aglomerado.
Death Pentheus Louvre
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